Belém do Pará e Ilha do Marajó: cor, sabor, carimbó e alegria

Vamos para o Pará? Mas a gente vai fazer o que lá?

Preciso confessar que eu nunca tive vontade de ir para o Pará e só fui porque minha irmã queria demais. Tínhamos acabado de voltar do Maranhão (relato aqui), daí apareceu uma daquelas promoções de passagem para o feriado de Corpus Christi (4 dias, de 31 de maio a 3 de junho) e não tive como escapar: topei!

E que bom que resolvi ceder. Conhecer Belém e a Ilha do Marajó foi uma das experiências mais deliciosas dessas minhas andanças.

A primeira pergunta que fiz antes de ir foi: mas no Pará tem praia? E daí a gente volta lá atrás nas aulas de geografia e lembra que sim, no Pará tem praias fluviais, que são praias de água doce, mas que sofrem influência do oceano. Aliás, a Ilha do Marajó é o maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo.

Bem, resolvida a questão da praia (que pra mim é importante quando se trata de uma viagem pra um destino quente), comecei a pesquisar e vi que pisar no norte do Brasil poderia ir além.

O planejamento da viagem

Assim como no Maranhão, no Pará também só tem duas estações: verão e inverno. Embora faça calor o ano inteiro, é no inverno, de dezembro a maio, que é a época das chuvas – e isso pode prejudicar bastante o seu roteiro, porque chove muito. Nós fomos na mudança das estações (fim de maio, começo de junho) e pegamos sol e chuva, mas conseguimos cumprir bem o que planejamos (inclusive o que planejamos errado, que vou falar já já rs).

Como nosso voo era noturno, chegando em Belém na madrugada, optamos por ficar na cidade no primeiro dia, pra descansarmos um pouco antes dos deslocamentos, e só no dia seguinte é que fomos para Marajó. Planejamos a volta no domingo à tarde, chegando em Belém no fim do dia, e… erramos! =(

Como o primeiro dia era justamente o feriado, acabamos não conseguindo aproveitar muito o mercado Ver-o-Peso, que aos domingos e feriados começa a desmontar tudo ao meio dia.

Nós não pesquisamos a respeito e começamos o nosso passeio pela Estação das Docas (o que tá certo, desde que seja num sábado, por exemplo, em que o mercado fica até mais tarde) e quando chegamos no Ver-o-Peso já estava fechando tudo. Mas tudo bem, né? Pelo menos conseguimos comprar umas castanhas, artesanatos e pude experimentar a famosa cachaça de jambu.

Seguindo com a organização da viagem (falo mais dos passeios daqui a pouco), nós escolhemos o hotel New Inn Batista Campos em Belém, uma opção com ótimo custo-benefício, e na ilha ficamos no Hotel Marajó, que na verdade é uma pousada simples, mas muito gostosa, pertinho do centro de Soure.

Nós escolhemos ficar em Soure por ser onde está concentrado a maior parte dos atrativos, mas sinto por não ter conhecido também Salvaterra. Para saber mais sobre as duas principais cidades da Ilha, é só dar uma olhada no post do Matraqueando, que me ajudou bastante a organizar a viagem.

Outro ponto que precisei pesquisar bastante (e acho que nesse, pelo menos, eu acertei rs), foi sobre alugar ou não um carro pra ir para Marajó. Optamos por não alugar, porque depois de fazer as contas, vimos que ficaria muito caro! Não só pelo preço da locação em si, mas pelos custos agregados, como a balsa ida e volta, combustível e tudo mais. Talvez se estivéssemos em mais pessoas, três ou quatro, valesse a pena, mas pra duas realmente não compensava. Além disso, viajamos no meio da crise dos caminhoneiros, então ainda poderíamos enfrentar problemas com a falta de combustível.

Para quem viaja sem carro, as opções de transporte na ilha são mototaxi, bicicletas ou taxis convencionais, que são caros (tipo R$ 20,00 pra andar 2km). Nós nos aventuramos nos mototaxis e correu tudo na mais perfeita paz rs. Recomendo!

Bem, dito tudo o que precisamos pensar para fazer a viagem acontecer, vamos à parte boa?

1º dia – Belém: Estação das Docas, Mercado Ver-o-Peso e Forte do Presépio

Acordamos cedo, tomamos café e fomos direto ao Terminal Hidroviário para comprar as passagens de barco para Marajó, mas ao chegarmos lá demos de cara com o guichê fechado (era umas 10h30/11h, mais ou menos).

O que acontece é que eles abrem cedo, embarcam a turma no barco que sai às 8h30 e depois já encerram os trabalhos.

Nós fomos no guichê da Master Motors, que é quem administra a lancha Golfinho, uma embarcação nova que começou a operar em 2017 e que faz o trajeto direto de Belém para Soure, sem ter que descer em Salvaterra e combinar com microônibus e balsa. O trecho custa R$ 48 por pessoa, pagamento em dinheiro, e a viagem dura aproximadamente 2 horas.

Para quem opta pela embarcação que faz Belém > Salvaterra, nada confortável e mais lenta, a viagem dura aproximadamente 4 horas (3 horas navegando e depois mais 1 hora de microônibus de Salvaterra para Soure – já contando o tempo da balsa).

Bem, mesmo fechado, pegamos um número de telefone que estava disponível em um cartaz no guichê e ligamos. Quem atende é o Matheus, responsável pela embarcação. Ele disse que conseguiria reservar dois lugares pra gente para o dia seguinte e que era só chegarmos por volta das 7h no Terminal para fazer o pagamento.

Saindo do Terminal, fomos andando para Estacão das Docas (aproximadamente 1,2km) e de lá seguimos para o Ver-o-Peso, que fica logo depois.

E foi na Estação das Docas que o Pará começou a me surpreender. Minha vontade era sentar em algum bar por ali e passar o dia todo tomando cerveja e fazendo nada.

A sorte foi que ainda estava tudo fechado e tivemos que continuar com o roteiro, senão teríamos perdido a atração principal de Belém que é o Mercado Ver-o-Peso.

Mesmo com todas as barracas já desmontando, conseguimos aproveitar a riqueza de um dos mercados públicos mais antigos do país, considerado uma das maravilhas do estado do Pará.

Eu confesso que no início fiquei meio assustada com aquilo tudo (o Ver-o-Peso é uma gigante feira ao ar livre que vende frutas, comidas, artesanato, condimentos, tudo junto-e-misturado), mas depois a minha vontade era experimentar tudo, comprar tudo, fazer tudo. Me limitei a provar só castanhas e a tradicional cachaça de jambu, pra evitar qualquer revertério logo no começo da viagem, mas me arrependo de não ter provado as frutas típicas da região.

De lá nós continuamos o passeio para a Praça do Relógio, o Forte do Presépio e a Catedral da Sé, que fica tudo mais ou menos perto e dá para ir andando tranquilamente, embora tenhamos ficado com um pouquinho de medo no trecho entre o Ver-o-Peso e a Praça do Relógio, porque como era feriado e estava tudo fechado, só se via uns “the walking dead” por lá. Meio tenso!

Depois de apreciar a paisagem linda da Baía do Guajará, chamamos um Uber e fomos almoçar em um lugar tradicional, recomendado por um amigo que morou em Belém: o Point do Açaí.

E foi no Point que começou a nossa primeira grande experiência paraense: açaí com carne, minha gente! Eu juro que fui imaginando que o fruto entraria só na sobremesa e não no prato principal rs. Estava esperando tomar aquela tigela do verdadeiro açaí, cheia de leite condensado e frutas da região, mas… éeeeegua! Não é assim que é no Pará rs.

O restaurante é realmente bastante tradicional e os garçons estão preparados pra receber os turistas. O rapaz que nos atendeu foi muito atencioso, nos ajudou a escolher o prato e nos deu uma verdadeira aula de como a iguaria deve ser servida. Se seguimos? Claro que não! rs

O prato que pedimos foi a “chapa mista paraense com açaí”, que vem peixe pirarucu, carne de sol, charque, filé de filhote (peixe típico da região amazônica), camarão, salada, batata frita e, claro, duas tigelas do bom (e puro) açaí.

A mesa ficou a coisa mais linda e nós até tentamos, mas para o nosso paladar ainda é muito estranho associar açaí a pratos salgados. Não adianta, não rola! Para o paraense é um pecado misturar frutas e qualquer doce ao açaí, mas foi o que fizemos. Pedimos logo o pote de açúcar e daí o creme virou sobremesa e não molho pra proteína rs. Sim, passamos vergonha (como outros paulistas que estavam no restaurante), mas não rola comer peixe com açaí não rs.

De lá nós voltamos para a Estação das Docas e fechamos o dia com um belo pôr do sol e um delicioso sorvete Cairu. Experimentamos o tradicional de tapioca, além dos sabores “carimbó”, que é uma mistura de castanha e doce de cupuaçu, e também o “mestiço”, que vem açaí e tapioca. Uma loucura de bom!

2º dia – Ilha do Marajó: chegada e Praia de Barra Velha

Madrugamos, pegamos as mochilas e começamos a viagem para Marajó. Chegamos ao Terminal no horário combinado com o rapaz da Golfinho, pegamos nossos tickets e ficamos aguardando o embarque, que foi até bem organizado e pontual.

Tudo correu bem na viagem e 10h30 já estávamos desembarcando em Marajó. Pegamos um taxi do terminal até a nossa pousada (que nos custou R$ 20 pra andar tipo cinco quadras), fizemos o check-in, deixamos as malas e arriscamos chamar dois mototaxis para nos levar à Praia de Barra Velha. Nós fizemos as contas e iria compensar bem mais fazer os passeios de moto (eles cobraram R$ 20,00 por pessoa pra nos levar e buscar na praia, com direito a parada pra comprar cerâmica na volta). O taxi não iria ficar menos de R$ 40 por trecho.

Começamos a nossa “aventura” já na avenida principal de Soure, que é um “caos organizado”: tem moto, bicicleta, carro, búfalo, gente, tudo transitando na mais perfeita harmonia, pra lá e pra cá. No começo assusta, mas depois acostuma.

Chegamos à praia e perguntei para um dos rapazes como faríamos pra chamá-los na volta, se pelo Whatsapp, telefone… Daí ele falou que não tinha Whatsapp e que em Barra Velha não tinha sinal nem de telefone, que dirá de internet. Nessa hora meu coração disparou, mas resolvi entrar na vibe e confiar que eles voltariam. Combinamos com eles para voltarem às 16h e 15h50 eles já estavam lá à nossa espera. Tudo super tranquilo também.

Sobre a praia (que, relembrando, é fluvial com influência do oceano, portanto não tem água cristalina!), eu simplesmente amei! Paisagens lindas, águas calmas, barracas com cerveja gelada por R$ 5 e almoço para duas pessoas por R$ 45, não tem como ser ruim.

Da praia aproveitamos a “carona” dos mototaxis e paramos no Ateliê Arte Mangue Marajó, do Ronaldo e de sua esposa, que nos receberam muito bem. Além das cerâmicas lindas feitas ali mesmo no ateliê, eles também têm um projeto superlegal com a comunidade, que são aulas de carimbó para crianças e adolescentes. Aos sábados eles fazem, na casa deles, um carimbó aberto a quem quiser participar e, claro, nós fomos!

3º dia – Ilha do Marajó: Praia do Pesqueiro, Fazendo São Jerônimo e Carimbó

Que dia, meus amigos! Que dia! Começamos o sábado chuvoso na Praia do Pesqueiro (que, talvez pelo mau tempo, não me agradou muito), vimos búfalos caminhando pela praia, tomamos a boa e gelada Cerpa, quase perdi meu drone com a ventania que fazia e, de lá, seguimos para um passeio agendado na Fazenda São Jerônimo, onde foi gravado uma temporada do “No Limite”, programa da TV Globo, e um dos cenários mais incríveis do Brasil. Lá tem de tudo: tem passeio de canoa no igarapé, tem praia, tem trilha no mangue, tem búfalo, e tem a simpatia do sr. Raimundo, dono da fazenda, que nos recebeu muito bem.

O passeio, que dura cerca de duas horas, precisa ser agendado com antecedência de um a dois dias (pode ser pelo Facebook ou por e-mail) e custa R$ 150 por pessoa (ref. junho/2018). Como adicional, por mais R$ 50, eles oferecem também um trecho pela baía do Marajó nadando com os búfalos. Eu não tive coragem nem de montar no bichinho, que dirá fazê-lo nadar me carregando. Deus me livre rs (aliás, importante mencionar que caso você não queira montar no búfalo – como nós não quisemos, é perfeitamente possível fazer o passeio todo caminhando).

Como uma imagem vale mais que mil palavras, a melhor forma de dizer como foi a nossa caminhada pela São Jerônimo é mostrar fotos (e vídeo, no fim do post):

No fim do passeio o sr. Raimundo nos recebeu com bolo e suco de taperebá na sede da fazenda (e nós amamos, porque estávamos “varadas” de fome depois de gastar tanta energia rs).

Depois da São Jerônimo, voltamos para a pousada, descansamos um pouco e terminamos o dia no carimbó do Ronaldo, lá no Ateliê. Realmente um sábado bem marajoara!

4º dia – Sol, piscina, compras e a volta para Belém

Claro que no último dia o sol resolveu dar as caras logo cedo, né? Mas antes de aproveitar o dia bonito na piscina da pousada, fomos ao centrinho para comprar delícias marajoaras. Infelizmente o mercado municipal estava fechado, mas conseguimos algumas coisas na feirinha que é montada em frente ao mercado.

Conseguimos comprar farinha e pimenta na feira e queijo de búfala no mercadinho da cidade. Lá também tinha a garrafada, aquela mistura amarela de pimenta com tucupi, mas ficamos com medo de estourar na mala (felizmente consegui comprar no aeroporto depois).

Depois das compras voltamos para a pousada e por lá ficamos (só no sol e no suco de taperebá) até a chegada do microônibus que nos levou à Salvaterra.

Diferente da ida, nós não conseguimos a Golfinho para a volta no domingo e tivemos que encarar o barcão nada confortável e lento para voltar à Belém, mas tudo bem, né? A viagem de volta começou às 13h na pousada e terminou por volta de 18h30 em Belém. Cansativa, mas com paisagens lindas para compensar.

Para encerrar a comilança, terminamos o domingo no “Lá em Casa”, um restaurante paraense dentro da Estação das Docas, que serve pratos típicos como o tacacá e a maniçoba. Experimentamos os dois, acompanhados de caipirinha de bacuri, mas eu particularmente não curti a maniçoba (sou mais a nossa feijoada rs).

De lá, para fechar a “bebelança”, ainda teve parada na Amazon Beer para provar a cerveja artesanal mais famosa de Belém (eu não sei como não explodi nessa viagem rs). Bebemos uma cerveja clara de bacuri e ainda trouxe para casa uma Witbier de taperebá e uma stout de açaí. Todas muito deliciosas!

E assim terminamos o nosso feriado em terras, águas e sabores paraenses.

Ah! Vocês lembram como comecei o post? “Vamos para o Pará? Mas a gente vai fazer o que lá?” – Agora já temos a resposta! A gente vai ver de perto como o Brasil é rico, como o sabor do norte é delicioso, como as cores encantam, como se permitir pode ser incrível. Ir ao Pará foi, definitivamente, uma viagem para se reconectar!

Belém do Pará e Ilha do Marajó em dicas curtas

  • Transporte: em Belém os Ubers funcionam muito bem e não tivemos nenhum perrengue. Para ir ao Marajó, se você não estiver com um grupo maior, a melhor alternativa é a lancha rápida que sai de Belém (recomendamos a Golfinho) e mototaxis na ilha (para os mais dispostos, dá para alugar bicicletas, mas os caminhos para as praias muitas vezes não são asfaltados, então vai dar trabalho!). Para quem estiver de carro, o caminho é por Icoaraci, a mais ou menos 25km de Belém, com a empresa Henvil, que é a balsa que faz a travessia dos veículos.
  • Alimentação: em Belém nós concentramos boa parte das nossas experiências gastronômicas na Estação das Docas, que tem várias opções desde a cozinha paraense à italiana, fomos também ao Point do Açaí, que recomendo demais, e infelizmente não tivemos tempo para experimentar o tacaca do Tomaz, que ouvimos dizer que é o melhor de Belém. Já em Marajó, todas as nossas refeições foram na pousada mesmo (e, digo, não deixou nadinha a desejar). Comemos frango no tucupi, escondidinho de carne de búfalo, doce de cupuaçu com queijo de búfala e castanhas, sucos de frutas típicas, tudo muito delicioso!
  • Hospedagem: em Belém há inúmeras opções, de hostel a hotel 5 estrelas. Nós pegamos um hotel com preço de hostel que resolveu bastante a nossa vida (New Inn Batista Campos). Em Soure as opções já são mais limitadas e escolhemos o Hotel Marajó, ótimo custo benefício também. Por lá, o melhor é procurar por opções de hospedagem que fiquem na região mais central, próximo ao mercado municipal.
  • Itens básicos: protetor solar, repelente, sandália/chinelo confortável para andar muito e roupas leves. Uma mochila é mais que suficiente para uns 4 dias por lá.
  • Quando ir: É bom evitar o inverno, entre dezembro e abril/meados de maio, porque a chuva pode estragar a viagem. Nós fomos no fim de maio, começo de junho, e ainda pegamos tempo instável, dias de sol e chuva, mas nada que atrapalhasse o nosso roteiro.

2 comentários sobre “Belém do Pará e Ilha do Marajó: cor, sabor, carimbó e alegria

Deixe um comentário